Enchentes geram grandes estragos em diversas regiões do Paraná

por Arthur Correia Zablonsky
Enchentes geram grandes estragos em diversas regiões do Paraná

Foto por Guilherme Rocha de Oliveira

União da Vitória passa por sua terceira maior enchente da história e Curitiba sofre o maior acúmulo de chuvas dos últimos anos

Por: Arthur Correia Zablonsky, Letícia Hamm, Raquel Anastacio Wrege

No começo dos mês de outubro o estado do Paraná foi atingido por um grande acúmulo de chuvas, trazendo grandes estragos para várias cidades paranaenses. Cerca de 25 cidades foram afetadas com enchentes e decretaram estado de emergência. As cidades que mais sofreram impacto e ainda estão lidando com os resultados da enchente são a cidade de União da Vitória, São Mateus do Sul (ambas se localizam no sul do estado) e Rio Negro (Região Metropolitana de Curitiba). 

A cidade de União da Vitória sofreu a sua terceira maior enchente na história. As águas do Rio Iguaçu não pararam de subir por duas semanas atingindo uma altura de 8,3 metros – resultando em um aumento de quatro vezes mais que o seu nível normal. Já em São Mateus do Sul, as casas ficaram praticamente por completo embaixo da água, em um período de cerca de duas semanas a cidade foi atingida por um total de 413 mm, o estimado para o mês de outubro era de somente 169 mm. Por conta disso, foi decretada a suspensão das atividades escolares e transporte durante a semana do dia 15 a 20 de outubro.   

Além disso, a cidade de Curitiba também foi atingida pelo grande número de chuvas no mês de outubro. Segundo o INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), a capital paranaense foi atingida por 559,8 mm de chuva no mês de outubro, a média mensal era de apenas 144 mm, registrando um aumento de quase cinco vezes maior que o esperado. Outros anos também tiveram grande acúmulo de chuvas, como 2015 com 246,7 mm e 1982 com 226,3 mm. Durante a primavera, em ambos os anos e 2023, as chuvas foram influenciadas fortemente pela passagem do El Ninõ que atingiu o Paraná com grande intensidade. 

O El Ninõ é um fenômeno climático, que afeta diretamente os índices pluviométricos. Neste ano ele atinge o país com forte intensidade – trazendo um período de seca e estiagem no Norte e Nordeste, já no Sul e Sudeste há grande quantidade de chuvas.

Apesar do recuo das águas no começo da semana do dia 23 de outubro, na semana do dia 26 de outubro até 6 de novembro as águas voltaram a subir com as chuvas. Cerca de cinco mil pessoas ainda não podem voltar para suas casas, continuando a morar nos abrigos oferecidos pela prefeitura. Ainda, mais de 110 mil pessoas de cerca de 138 cidades paranaenses foram afetadas de alguma forma pelas fortes chuvas que ocorrem desde o início de outubro. Foram desalojadas cerca de 760 pessoas (abrigadas em casas de parentes ou conhecidos), enquanto 816 continuam desabrigadas (em abrigos públicos). 

Ao todo 13.134 casas foram danificadas pela ação das chuvas e 80 foram totalmente destruídas. Estes dados são extraídos do relatório mais recente da Coordenadoria Estadual da Defesa Civil. 

Para o engenheiro ambiental e professor na PUCPR Altair Rosa, é normal que eventos climáticos intensos aconteçam. Porém, as chuvas têm sido intensas em um curto espaço de tempo. E por isso, a infraestrutura da cidade não está preparada para receber esse excedente de água. Para ele, a solução seria investir em mecanismos de controle baseados na natureza, como os parques. “Os lagos não estão dando conta, mas isso poderia ser resolvido com mais deles e com mais manutenção”.

Rosa ainda aponta que esses eventos climáticos tem consequências desiguais para as diferentes camadas sociais “Quando se fala em mudanças climáticas, a população sente diretamente na temperatura. Se isso acontecer com uma população mais abastada, ela compra um ar condicionado ou um ventilador. Mas  quando falamos da população mais vulnerável, porque não tem recurso financeiro para minimizar essas ondas de calor, ela não vai estar preparada para lidar com a temperatura”

Situação de emergência

No dia 17 de Outubro, o Governo Estadual aprovou oficialmente os pedidos de situação de emergência apresentados pelas administrações municipais de Prudentópolis, Rebouças e Dois Vizinhos. Com essa aprovação, o número de municípios em estado de emergência subiu para 20. Essas localidades agora terão acesso a linhas de crédito de emergência. 

Além disso, o reconhecimento da situação de emergência possibilitará um reforço no contingente do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil nas áreas afetadas, com o propósito de prestar assistência à população atingida.

Mudanças Climáticas  

As mudanças climáticas são transformações de longo prazo nos padrões de temperatura e condição atmosférica. Elas são um fenômeno de caráter duradouro e de difícil reversão. Essas alterações podem ser causadas de forma natural, como resultados de flutuações no ciclo solar. No entanto, desde o ano de 1800, o principal causador dessas mudanças climáticas tem sido a atividade humana, principalmente devido à queima de recursos fósseis como carvão, petróleo e gás. 

Essas mudanças podem ter impactos variados, abrangendo desde a saúde humana até a produção de alimentos, habitação, segurança e empregos. A crise climática se manifesta de diversas maneiras em âmbito global, e tem influenciado o clima no Brasil. Nas últimas semanas, enquanto a região Sul enfrenta chuvas intensas devido a ciclones extratropicais, o restante do país enfrenta ondas de calor extraordinárias, com registros de temperaturas inéditas para esta época do ano. 

O professor titular do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas Paulo Artaxo expõe em uma entrevista para a Agência FioCruz que o aquecimento global está favorecendo e intensificando esses fenômenos climáticos, e que neste momento estamos enfrentando uma emergência climática, apelidada de ebulição global. 

Serviço

A previsão para o verão paranaense é de muitas chuvas, causando riscos de alagamentos e desmoronamentos. Em caso de riscos para tais eventos naturais, saiba o que fazer em casos de emergência. Caso perceba que o volume de água está subindo, coloque seus bens e móveis em lugares altos para evitar a perda dos seus pertences.

Se ficar ilhado ou em situações de risco, ligue 193 – Corpo de Bombeiros ou 199 – Defesa Civil.

Entenda Mudanças Climáticas