Festival Olhar de Cinema exibe filmes paranaenses e curitibanos

por Ryan Minela
Festival Olhar de Cinema exibe filmes paranaenses e curitibanos

Desde sua criação, o evento exibiu mais de 900 filmes em todo o mundo, com espaço para filmes ‘independentes’, feitos por pequenos produtores sem vínculo com grandes estúdios

Por Álefe Carvalho, Davi Ozório, João Butka e Ryan Minela | Foto: João Butka

O Olhar de Cinema, que surgiu em Curitiba em 2012, chega à sua 12ª edição em 2023 e será realizado entre os dias 14 e 22 de junho. Após dois anos de edições virtuais e híbridas, o festival retoma 100% presencial, com o propósito de celebrar “a existência e a resistência das pessoas que realizam o cinema brasileiro”. Organizada pela Grafo Audiovisual, produtora curitibana, a programação dá destaque aos títulos paranaenses.

Neste ano, pela primeira vez na história do festival, a abertura se dará na Ópera de Arame, e contará com a exibição do longa-metragem Casa Izabel, dirigido por Gil Baroni. É a primeira vez que um filme paranaense abre o festival.

O produtor Antonio Gonçalves Junior, é um dos idealizadores do evento e assina a direção artística “[O Olhar de Cinema surgiu] de uma vontade de compartilhar alguns filmes que a gente via fora do Brasil, ou em outros festivais nacionais, mas que acabavam não sendo exibidos em Curitiba”. O diretor explica que em 2012, a cena audiovisual da cidade estava em desfalque, pois três importantes festivais cinematográficos haviam sido descontinuados. “Então a gente falou ‘vamos criar um festival, uma amostra pequenininha, para compartilhar alguns desses filmes interessantes que estão circulando o mundo e não chegam em Curitiba’. Criamos um projeto, mandamos para a Lei Rouanet, aprovamos e captamos [os recursos]”.]

Junior conta que o evento surgiu com um caráter muito parecido com o que tem hoje, “o festival mudou pouco no seu conceito, no seu formato, no tipo de filme exibido. Claro que a gente tem que ajustar porque são outros tempos, mas, assim, a linha da curadoria, a essência de 2012 é igual à de 2023”, ressalta.

O Olhar de Cinema, durante suas 11 edições, se tornou uma referência e uma fonte de inspiração para cineastas independentes, que produzem suas obras sem ligação com grandes estúdios “Nosso festival é um espaço que todo mundo conhece dentro do circuito desse tipo de cinema [independente. É uma referência hoje no Brasil. Neste ano, recebemos, só de realizadores brasileiros, 125 longas inéditos. De todos esses, a gente tem que selecionar seis. Apesar de muito novo, comparado com os festivais de Gramado e Brasília, conseguimos galgar um espaço dentro desse circuito de festivais brasileiros que são realizados anualmente”.

Apesar da história consistente de realização do Festival há 11 anos, Junior relata que a busca pela verba que viabiliza o projeto nunca fica mais fácil. “O desafio é sempre fazer o festival, porque todo ano a gente começa do zero. A gente achou que depois de um certo período, depois de certas edições, estaríamos tranquilos em relação ao patrocínio para fazer o evento. Mas não rola isso. A gente acaba o festival em 22 de junho e começa a captar pro ano que vem sem nenhuma perspectiva de ter alguma renovação daquelas empresas. Todo ano a gente começa do zero”. Além da dificuldade em angariar patrocínio, ele afirma que a produção do festival passa por problemas para garantir as salas de exibição. “Principalmente depois da pandemia, temos enfrentado muita dificuldade com salas de cinema. No oitavo ano do festival, que foi o último ano antes da pandemia, tivemos salas do Itaú, duas salas do Cine Passeio e duas salas do Batel. A gente perdeu as três salas do Itaú. Isso foi um baque muito grande. No ano passado, até conseguimos substituir com o Cinemark, mas este ano não vai rolar, por causa dos lançamentos hollywoodianos no mesmo período. A gente tá meio órfão de salas de cinema”, brinca o diretor.

Sobre a expectativa para a edição deste ano, ele conta que a cada ano se apaixona pelas películas selecionadas. “A gente tá com uma programação super massa, todo ano eu me encanto. A seleção está incrível. A cada ano, as seleções me agradam mais. Eu acredito muito na seleção desse ano, está muito equilibrada”. Ele explica como a seleção dos filmes ocorre: “sempre privilegiamos filmes que se arriscam, filmes que fujam de um olhar tradicional”.

Segundo Junior, o objetivo é trazer ao público curitibano experiências cinematográficas diferentes dos filmes hollywoodianos que dominam as salas da capital, por meio de filmes que experimentem com diferentes linguagens e códigos. “A gente não quer pôr algo lá que ninguém consiga entender, que seja completamente cifrado e codificado. Então, se a pessoa busca o Olhar de Cinema, ela sabe que o perfil é de filmes que trabalham com a linguagem cinematográfica como elemento principal”. Na mostra competitiva, tanto internacional como brasileira, ainda existe a fuga do padrão do cinema tradicional, mas com uma linguagem mais compreensível e palatável para o público geral.

Gabriel Borges, responsável pela curadoria de longas-metragens, comenta que o processo é cansativo, mas muito enriquecedor. “Começamos a ter um panorama da produção tanto internacional quanto brasileira. É um panorama muito propositivo, o Olhar tem esse gosto de exibir filmes independentes, mas provocadores, propositivos, instigantes, filmes que se proponham a outros espaços que não só o do cinema comercial.”

Giulia Maria Roberta, estudante de cinema na UNESPAR e encarregada da curadoria de curtas-metragens, afirma que o processo foi bem diferente do que ela imaginava. “Pensei que a gente fosse encontrar filmes muito semelhantes, e, na verdade, os filmes têm coisas muito únicas.” Ela também explica como funciona o processo de seleção: “o primeiro processo é realmente fazer essa peneira e montar as seções. Aí, vem a parte difícil da coisa. Tem muitos filmes que a gente gosta, mas que, às vezes, não entram por não dialogarem tão bem com a proposta. Mas, de qualquer forma, encontramos um jeito. A gente selecionou filmes incríveis para 12ª edição do festival.”

O festival é dividido em diferentes mostras: Pequenos Olhares, Olhar Retrospectivo, Exibições Especiais, Mirada Paranaense, Competitiva Internacional, Competitiva Brasileira, Foco Quebec e Novos Olhares. É o primeiro ano que as mostras competitivas são divididas em internacional e brasileira.

A programação foi divulgada oficialmente num evento no dia 10 de maio no Cine Passeio. Para conferi-la, basta acessar o site ou as redes sociais do festival: olhardecinema.com.br, @olhardecinema.

Confira o infográfico com o percentual de filmes inscritos