Paraná está entre os três estados com mais registro de casos de injúria racial

por Arthur Froes
Paraná está entre os três estados com mais registro de casos de injúria racial

Vereador de Apucarana corre risco de perder o cargo, após fala xenofóbica contra nordestinos

Por Arthur Froes, Camila Lara e Pablo Ryan | Foto: Pablo Ryan

O Paraná teve 1.458 casos de injúria racial em 2022, ficando atrás apenas dos estados do Rio de Janeiro e Santa Catarina, conforme dados divulgados pela 17º edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

O caso mais recente de xenofobia no estado aconteceu em Apucarana, no norte do Paraná. Em 14 de agosto, o vereador Antonio Garcia (União Brasil) disse, durante a discussão de um projeto, que “no Nordeste o pessoal não gosta muito de trabalhar”.

Uma semana depois, a Câmara de Vereadores acatou denúncia contra ele por quebra de decoro parlamentar, por crime de xenofobia. A denúncia foi apresentada pelo vereador Moisés Tavares (Cidadania), filho de nordestinos, que se mostrou contrariado com a declaração e afirmou que a fala do colega se enquadra no artigo 79 do Regimento Interno da Casa, que abrange a conduta dos vereadores. O caso agora será analisado por uma Comissão Processante.

O parlamentar se defendeu. “Eu não desfiz de pessoas do Nordeste. Só dei um exemplo”, disse, no dia seguinte à declaração. Ele também fez um pedido de desculpas formal, dizendo que a intenção não foi ofender e pedindo perdão a qualquer um que tenha se ofendido com sua declaração.

Vítimas relatam xenofobia no Paraná

A moradora de São José dos Pinhais e natural de Caracas, capital da Venezuela, Sol Leon, de 30 anos, deslocou-se do seu país há quatro anos por motivos de crise econômica. Sol diz que, em seu atual trabalho, ocorreram situações de pessoas criarem afastamento por não entenderem sua pronúncia de português. “Muitas vezes, nos xingam e pensam que não estamos compreendendo o que estão falando”.

Já o estudante Wagner Alexander, que é residente de Psicologia  que veio de Recife para Curitiba, conta que foi ofendido em seu local de trabalho.

O ambiente de trabalho pode ser um local propenso a sofrer tal ato, já que, em ambientes de crise socioeconômica, a população local tende a acreditar em um mito pelo qual culpam os estrangeiros por supostamente estarem “roubando seus empregos”. Wagner foi uma das pessoas que sofreu com a errônea crendice popular.

Professor de Sociologia na rede pública, Ney Jansen explica as raízes da xenofobia: “A xenofobia significa a aversão ao estrangeiro, ao imigrante. Ela está geralmente ligada ao fenômeno do etnocentrismo que é o preconceito cultural, a tendência de julgarmos (ou medirmos) a cultura “do outro” pela nossa própria régua cultural e do racismo, no mundo contemporâneo a xenofobia torna-se geralmente uma reação ideológica à imigração”.

O professor complementa: “A xenofobia e o racismo são explorados identificando no imigrante o suposto responsável pela perda dos empregos, ao invés de se questionar os mecanismos do próprio capitalismo, que acentuam a divisão da classe trabalhadora em nacionais versus imigrantes”.