Polícia Civil recomendará torcida única para os clássicos em Curitiba

por Caio Yuke
Polícia Civil recomendará torcida  única para os clássicos em Curitiba

Modelo que consiste em proibir a entrada da torcida visitante será usado a fim de evitar novos episódios de violência dentro dos estádios da capital

Por Caio Yuke | Fotos: Caio Yuke

O tradicional confronto entre Athletico e Coritiba deve perder o elemento da torcida visitante nas arquibancadas dos estádios curitibanos. Devido aos acontecimentos do Athletiba disputado no dia 16 de fevereiro válido pela primeira fase do Campeonato Paranaense, quando torcedores romperam a barreira que dividia as torcidas e trocaram agressões entre si nas arquibancadas do Couto Pereira, os dois confrontos seguintes foram disputados no modelo de torcida única como forma de punição aos clubes recomendada pela Polícia Civil.
A torcida única já é bastante utilizada no Brasil como forma de punição ou prevenção de confusões entre torcidas rivais em jogos de futebol, e deve se tornar cada vez mais comum aos torcedores de Athletico e Coritiba. O delegado da Delegacia Móvel de Atendimento ao Futebol e Eventos da Polícia Civil, Luiz Carlos de Oliveira, explica que o modelo foi um sucesso nas semifinais do Campeonato Paranaense e deverá ser utilizado nos Athletibas do Campeonato Brasileiro, já que segundo o delegado, o clássico sempre foge de qualquer expectativa por parte da polícia.
“Quem foi à Arena da Baixada ou ao Couto Pereira nos jogos de torcida única viu uma tranquilidade, uma paz. A torcida única foi um sucesso para quem gosta de futebol, principalmente para quem gosta de ir aos jogos com os filhos e família. Nós (Polícia Civil) iremos conversar com os clubes e com a CBF para que os jogos envolvendo Athletico e Coritiba sejam realizados com a torcida única, para que isso seja uma regra.”
O delegado justifica que uma confusão em uma arquibancada de estádio é muito mais perigosa do que conflitos espalhados pela cidade, pois as vítimas não tem como fugir dos agressores dentro de um estádio, resultando em muitos inocentes feridos. Ainda ressalta que faltam ferramentas na legislação para que a polícia consiga punir os responsáveis da melhor forma, seja com multas, banimento de estádios de futebol ou até mesmo prisão. Sugere também o uso de tornozeleiras eletrônicas em dias de jogos desse tamanho em pessoas com ocorrências em brigas envolvendo o futebol, para identificar e localizar possíveis novos pontos de confusão e assim preveni-los.
Por sua vez, o publicitário Álvaro Meneghelli, torcedor fiel do Coritiba, lamenta o que para ele foi uma decisão emergencial e não efetiva de implantar a torcida única nas partidas entre os rivais.
“Eu como torcedor, sou contra (a torcida única).Queria ter ido ao primeiro jogo na Arena da Baixada, ter aproveitado a vitória do meu time no estádio adversário. Não acho a torcida única correta, perde-se um pouco da magia do futebol.”
De acordo com a psicóloga Isadora Guimarães, durante uma partida de futebol é observado o fenômeno comportamental de efeito de multidão, que traz uma catarse para a pessoa que está envolvida, deixando-a mais suscetível a influência do comportamento agressivo de outro indivíduo ou grupo. Porém, a profissional deixa claro que o efeito de multidão sozinho não é suficiente para destravar um comportamento violento.
“A agressividade tem que estar de alguma forma já presente no indivíduo. Se uma pessoa tem uma suscetibilidade para o comportamento violento, mesmo que não o praticasse sozinha, ela provavelmente vai ser influenciada pelo coletivo em um momento onde está muito emocional.”
A psicóloga ainda alerta o problema que é menosprezar episódios de violência no futebol. Para ela, o fato desses episódios serem socialmente aceitos pelas pessoas que estão ali presentes no estádio, aumenta ainda mais as chances de acontecer.
“Quando se justifica as ações de um indivíduo pelo coletivo é ignorada a capacidade de discernimento próprio de cada um ali presente, pois sim, mesmo existindo esse fenômeno de multidão, cada um sabe exatamente o que está fazendo.”

Leia Mais: Relembre os episódios de violência no futebol paranaense nos últimos anos

Clubes paranaenses protagonizaram cenas de barbárie que chocaram o país

Por Caio Yuke

Infelizmente o estado do Paraná coleciona episódios lastimáveis envolvendo o futebol, na capital e no interior. Relembre alguns dos principais acontecimentos envolvendo torcedores e jogadores de clubes paranaenses:

26/02/2022 – Invasão ao gramado de parte da torcida do Paraná Clube ao gramado da Vila Capanema.

Após o rebaixamento da equipe para a segunda divisão do Campeonato Paranaense, torcedores invadiram o campo para agredir os jogadores do clube. Alexandre Jonck, torcedor do Paraná Clube presente no estádio, contou seu testemunho do ocorrido.

“Os jogadores mais próximos foram hostilizados e algumas trocas de agressões ocorreram, inclusive com alguns jogadores revidando ao ataque dos torcedores. A tristeza e frustração eram tamanhas pela situação do clube naquele momento, que eu simplesmente me contive em segurar as lágrimas e até certo ponto entender o que se passava na cabeça dos torcedores naquele momento.”

Pela confusão, o Paraná Clube foi punido com uma multa no valor de R$15 mil e a perda de oito mandos de campo, ou seja, jogará as próximas oito partidas que seriam junto de sua torcida com os portões fechados.

26/02/2022 – Atentado ao ônibus do FC Cascavel após o clássico contra o Maringá.

Via Twitter, a diretoria do Cascavel informou que nenhum jogador ou funcionário do clube, mas que repudia o acontecido que não foi inédito, e espera que as autoridades tomem providências para que episódios assim não se tornem rotina e ameassem a vida dos atletas.

“Fomos alvo de um ataque cruel e descabido praticado por torcedores rivais, que estavam do lado de fora do estacionamento do estádio, aguardando nossa saída. Os criminosos arremessaram várias pedras contra o nosso ônibus e duas delas atingiram o vidro traseiro do veículo. Por sorte, nenhum jogador ou membro da nossa comissão técnica se machucou, mas o susto foi enorme.”

08/12/2013 – Briga generalizada nas arquibancadas entre torcedores de Athletico e Vasco.

Este episódio se passou em Joinville, mas mais uma vez envolve o futebol paranaense. Logo no primeiro tempo da partida entre Athletico X Vasco pelo Campeonato Brasileiro, a barbárie de pessoas sendo pisoteadas nas arquibancadas, trocando agressões com socos, pontapés, tábuas de madeira e barras de ferro, só foi cessada depois de mais de uma hora. Quatro torcedores precisaram ser retirados com um helicóptero que pousou no gramado da Arena Joinville. O ex zagueiro do Athletico, Luiz Alberto, relatou na época sua indignação com a cena.

“Estávamos vendo o rapaz deitado, tomando chute, levando golpe de madeira. É um ser humano, isso precisa parar. A gente pedia para eles pararem, mas parece que não nos ouviam.”

06/12/2009 – Invasão de parte da torcida do Coritiba ao gramado do Couto Pereira após o rebaixamento da equipe no Campeonato Brasileiro.

O episódio que chocou o país há mais de 10 anos deu ao clube um prejuízo enorme com a destruição do estádio durante o confronto entre torcedores e policiais, além de uma multa de R$100 mil além da perda de dez mandos de campo, forçando o Coritiba a jogar em Joinville boa parte da série B do ano seguinte. Álvaro Meneghelli era um dos mais de 30 mil torcedores no Couto Pereira durante a confusão e conta como se lembra do acontecido.

“Na época eu fui ao estádio com duas crianças de 8 e 10 anos, meus primos, e foi bem difícil porque eu me perdi deles na saída com aquela invasão, a polícia agredindo, tiro, bomba e eu fiquei desesperado atrás deles. Eu lembro que eu fui para a rua, já tinha baixado helicóptero no estádio, e tomei um tiro de borracha na mão só por estar ali fugindo da aglomeração sem provocar ninguém. Mas foi bem tenso, o dia todo foi horrível depois daquela situação, eu como torcedor fiquei bem chateado com a invasão principalmente.”