Prestígio e limitações marcam o início do curso de jornalismo no Paraná

por Rodolfo Stancki Silva
Prestígio e limitações marcam o início do curso de jornalismo no Paraná

A Católica do Paraná instituiu a primeira faculdade de jornalismo do estado em meio a um delicado momento político histórico

Por Bruna Cominetti, Guilherme Araki e Vinicius Bittencourt 

E m 1956, o jornal Diário do Paraná publicou uma matéria que noticiava a autorização do funcionamento do primeiro curso de jornalismo do estado na então Faculdade Católica de Filosofia. O documento teve assinatura do Presidente da República, Juscelino Kubitschek, e previa o curso seguindo os mesmos moldes de outros estados, ministrado por professores selecionados pela direção do estabelecimento, sob o comando do professor Liguarú Espírito Santo.

No primeiro concurso de seleção, em 1956, foram inscritos 61 candidatos para a disputa de 40 vagas. Devido ao grande interesse, havia expectativa para a liberação de uma nova turma em um segundo concurso, porém o Ministério da Educação e Cultura não liberou. Na época, em entrevista concedida ao jornal Diário do Paraná, o professor Liguarú discutiu sobre a importância do aprendizado prático, além do teórico. “Os alunos do curso estarão em contato permanente com a imprensa da capital, fato que se verificará já neste ano de acordo com seu desenvolvimento”.

Liguarú ainda ressaltou para o jornal que o curso de Jornalismo possuía um caráter cultural e não didático. “O diploma não era um privilégio profissional ou didático, e sim, um título cultural, de alta significação, como compreende aqueles que militam na imprensa”.

O ex-professor Hélio Puglielli, que lecionou o curso de Jornalismo na PUC a partir de 1967, época em que a universidade ainda não havia recebido o título de “Pontifícia”, comenta sobre as dificuldades de ensino naquela época. “Existiam limitações, concentrando-se o ensino mais no jornalismo impresso, pela ausência de instalações apropriadas para aulas práticas de radiojornalismo, telejornalismo e cinejornalismo”.

Puglielli ainda diz que no início da década de 70, o Ministério da Educação estabeleceu um novo formato para o curso, que a partir de então, passou a ser polivalente. Desta forma, o currículo praticamente triplicou, abrangendo, além Jornalismo, a formação em Relações Públicas e Publicidade e Propaganda. Ele explica que, organizacionalmente, o curso integrou-se à recém-instituída PUC e transferiu-se da velha sede do Santa Maria para um dos blocos do campus no bairro Prado Velho.

Por fim, o ex-professor comenta sobre a importância do curso de jornalismo na época, destacando o contexto de clima sombrio vivido pelo país nos chamados “anos de chumbo”, que contaminavam a atividade acadêmica. Ele aponta que existia uma forte mobilização política entre os estudantes, mas que isso só se refletia indiretamente nas salas de aula. “No meu caso, não fui tolhido em minha liberdade de ensinar e acredito ter contribuído para desenvolver o senso crítico e o espírito de cidadania entre os alunos”.

Foto do arquivo que mostra a ementa do primeiro curso do jornalismo da Católica. Imagem: Acervo/PUCPR.

O jornalista Luiz Geraldo Mazza, que atua na profissão há 70 anos, fala sobre como era o jornalismo no Paraná na década de 50 e 60, quando o curso foi instituído. “O nosso jornalismo era periférico. Fora o jornal Zero Hora, nós tínhamos um jornalismo muito dependente das verbas públicas e era inimaginável que pudesse funcionar sem esse tipo de apoio”.

Mazza ainda comenta que grande parte dos profissionais que praticavam o jornalismo no Paraná, mesmo antes da autorização para o funcionamento do primeiro curso do estado, já eram formados em outras áreas, como Sociologia, Economia e, no caso dele, Direito. “Essa condição universitária servia como preenchimento, embora não tivesse a mesma especificidade do curso de jornalismo, o qual foi evoluindo com o tempo”. Porém, destaca que o estabelecimento da faculdade serviu para ratificar e prestigiar grandes profissionais da época, pois mesmo sem a formação específica, foram convidados para lecionar pelo curso.

O jornalista aponta que existia um grande desafio na distribuição do jornal na época, evidenciando, na visão dele, uma deficiência estrutural. “O jornal não chegava. Os profissionais tinham a garantia de receber recursos do governo e não se preocupavam com essa coisa básica, que era a circulação”. Como  consequência, por mais que tentassem cumprir o papel social do jornalismo abordando pautas de relevância, como desigualdade de classes e inflação, não obtinham um efeito palpável.

Em análise ampla sobre o começo dos jornais em Curitiba e no estado, Mazza critica a falta de ousadia para noticiar os acontecimentos da época. Funcionando sob a outorga do Regime Militar, relata que mesmo os veículos de apelo populista, eram bancados pelas grandes instituições do Paraná. Assim, não sobrava espaço para um jornalismo livre. “Enquanto cobriam o Governo Ney Braga, entidades como o Banco do Estado e a Copel, que financiavam o jornal, não eram alvo de qualquer crítica. Dava a impressão de um Jornal Popular mas que, na verdade, era comprometido
em sua raiz.”