Somente 30% do grupo prioritário se vacinou no Paraná até abril

por Milena de Fátima Chezanoski
Somente 30% do grupo prioritário se vacinou no Paraná até abril

Após três meses do início da vacinação contra a Covid-19, Curitiba vacinou apenas 290 mil pessoas

Por: Georgia Giacomazzi, Giulia Militello e Milena Chezanoski | Foto: Depositphotos

Dos mais de 4 milhões de paranaenses que englobam os grupos prioritários na vacinação da Covid-19, somente 1,6 milhões tomaram pelo menos a 1ª dose da vacina até o final de abril. Estes dados apontam um possível atraso no cronograma nacional, no qual esses grupos deveriam estar imunizados até maio deste ano. Dentre os possíveis fatores que levam ao atual cenário, especialistas apontam a má gestão e o atraso de doses da vacina. Alguns dos grupos prioritários incluem trabalhadores de vários setores, os quais estão aguardando a chegada do imunizante com insegurança.

O Plano Estadual de Vacinação foi divulgado pela Secretaria de Saúde do Paraná em janeiro deste ano. O documento coloca como grupos prioritários a receber a vacina da Covid-19 aqueles que estão submetidos à exposição, com uma maior chance de infecções. Estão incluídos idosos, indígenas, trabalhadores da saúde e pessoas com mais de 60 anos, moradores de rua, pessoas com comorbidades, pessoas com deficiência, quilombolas, população privada de liberdade e trabalhadores de setores que são expostos à comunidade, como educadores, caminhoneiros, transporte coletivo entre outros trabalhadores.

Recentemente foram incluídos trabalhadores de transportes aquaviários, trabalhadores industriais e forças armadas. Totalizando o número atual de mais de 4,5 milhões de paranaenses. Porém, até o final de abril não foi aplicada a primeira dose em todos os idosos no estado.

O ritmo lento da imunização desses grupos é colocado por especialistas como um erro de planejamento por parte do governo federal. De acordo com o médico Gilberto Berguio Martin, especialista em Planejamento de Sistemas de Saúde e Saúde Pública, a demora em adquirir doses foi crucial no cenário que o estado vive hoje. “Agora a gente tem uma dificuldade muito grande para conseguir a quantidade de vacinas que precisa.” Martin também aponta a dificuldade existente na elaboração de um plano de vacinação eficiente, principalmente com o déficit de vacinas. “Quando você tem uma demanda maior que a oferta, é muito difícil estabelecer um critério ‘justo’ e que agrade a todos”.

Trabalhadores se expõem aguardando a vacina
Curitiba já teve que paralisar a vacinação por falta de doses em fevereiro, as quais são enviadas pelo Ministério da Saúde. Tendo em vista o quão alarmante está a situação atual, a cobradora do transporte coletivo de Araucária, região metropolitana da capital, Solange Moraes, está aguardando a vacina com grande expectativa. Mesmo assim, a trabalhadora admite que apesar dos procedimentos adotados dentro do local de trabalho, a insegurança existe. “Estamos nos protegendo e se cuidando, mas é bem complicado.”

Além disso, Solange relata que a empresa Viação Tindiquera, que administra a frota de ônibus urbano da cidade de Araucária, conta com a disponibilização de luvas e máscaras para os funcionários. Também é proibida a entrada de qualquer passageiro que não estiver utilizando máscara de proteção, tanto no terminal quanto dentro do transporte público.

Outra situação comum é de alguns trabalhadores que adotam medidas de prevenção mais do que o solicitado pela empresa que trabalham. É o caso da professora universitária Aline Fernanda da Silva, que atua em dois campus da escola de negócios de uma faculdade particular. A professora conta que não divide mais carona com colegas, por mais que aumente os custos de locomoção. Visto que um campus é na região metropolitana e o trajeto dura uma hora.

Aline também relata que os procedimentos são seguidos corretamente na faculdade, mas, por segurança, prefere fazer o lanche que leva de casa no próprio carro. A sala dos professores também não é mais a mesma, com várias restrições e demarcações diminuindo o momento de interação. “Era o momento em que trocamos ‘figurinhas’ sobre o aprendizado e a rotina, um momento muito caro para nós professores.”

A respeito da vacina, a professora alega estar ansiosa para receber o imunizante, “minha expectativa é imensa para receber a vacina.” Mas confessa ter um receio no momento sobre os alunos e sua família, que a princípio não estão inseridos no grupo prioritário. “Nós professores também somos vetores, pois damos aulas para grupos diferentes durante a semana”.

Inicialmente, o prazo para a vacinação de todos os grupos prioritários era até dia 31 de maio. Porém, de acordo com o cenário atual, trabalhadores como Solange estão estipulado para julho. A exposição é o que preocupa a classe, que no início de abril foi às ruas para serem priorizados no plano, porém ainda não foi alterada a ordem de vacinação do setor. A previsão para vacinação dos professores é que inicie durante o mês de maio, com o retorno das aulas presenciais na rede estadual, a espectativa dos professores é grande para que possam trabalhar com tranquilidade.

Médicos receitam Kit Covid

Pesquisa realizada no Reino Unido com 4.500 pacientes hospitalizados mostrou que a hidroxicloroquina e azitromicina não trouxeram benefícios

O consumo do Kit Covid no Brasil pode ser resumido como a utilização de medicamentos sem eficácia comprovada que estão sendo usados no tratamento ou até mesmo prevenção da Covid-19. Entretanto, esses medicamentos, como a Hidroxicloroquina e a Ivermectina, causam efeitos colaterais quando usados de forma excessiva e diferente da indicação da bula. O próprio laboratório da Ivermectina, a Merk (MSD), emitiu uma nota sore a ineficácia do produto para este tratamento. “Até o momento, nossa análise não identificou nenhuma base científica para um efeito terapêutico potencial contra Covid-19 de estudos pré-clínicos”.

Tendo como base estudos como esses, o médico Gilberto Berguio, especialista em Planejamento de Sistemas de Saúde e Saúde Pública, afirma que “fora a vacina, não existe nenhum tipo de tratamento que previne, ou que mude o curso da doença.” Mesmo assim, estes medicamentos são prescritos em alguns casos. O especialista esclarece que, de acordo com o código de ética médico, os profissionais têm autonomia de prescrever medicamentos off label (tratamento sem seguir necessariamente a bula de cada medicamento). “Não cabe aos outros (médicos) julgarem, quem tem que julgar e estar consciente é o paciente.” Ele salienta para que a população se informe através de artigos científicos, e que procurem entender o estudo antes de fazer o uso precoce de medicamentos.