Transporte público de Curitiba enfrenta declínio econômico

por Gabrielly Dering
Transporte público de Curitiba enfrenta declínio econômico

Falta de passageiros prejudica o caixa do sistema de transporte público; déficit já chegou a R$ 61 milhões

Por Gabrielly Dering, Sarah Guilhermo e Stephanie Friesen

O número de passageiros que utilizam o sistema de transporte público de Curitiba e Região Metropolitana caiu cerca de 70% durante o período de pandemia da Covid-19, segundo registros da Urbanização de Curitiba (Urbs). Esse declínio resultou em uma crise econômica na área. A Prefeitura da cidade propôs um projeto de subsídio para suprir a defasagem e o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) implementou medidas de emergência aos trabalhadores.

As ações de isolamento social e a suspensão de algumas atividades comerciais causaram impacto na movimentação econômica do transporte coletivo da capital paranaense. De 16 de março, quando a queda de passageiros teve início, até 19 de abril, o déficit no sistema chegou a R$ 61 milhões.

O agente de fiscalização do transporte coletivo de capital do estado, Pedro*, conta que os operadores de transporte representados pelo Sindimoc também sofreram impactos. Alguns tiveram os salários atrasados. “Houve redução de jornada de trabalho, suspensão de contrato de trabalho com a empresa pagando 30% do salário e o governo pagando os outros 70%, entre outras medidas”, explica. Devido aos funcionários afastados, a carga de trabalho aumentou significativamente.

Medidas oficiais

Transporte Público Ônibus CuritibaO número de passageiros caiu em 70%. Foto: Stephanie Friesen

No dia 4 de maio, a Câmara Municipal aprovou o Regime Emergencial de Operação e Custeio do Transporte Coletivo. O projeto de lei institui um programa de custeio do transporte pelo período de 90 dias, devido à pandemia. A matéria foi aprovada em primeiro turno com 24 votos favoráveis e 10 contra. A medida foi sugerida após o Executivo identificar risco de interrupção do serviço de transporte e a possibilidade
de greve dos trabalhadores.

O objetivo do programa é minimizar o impacto financeiro da queda de receita e preservar a saúde dos usuários. O projeto aprovado prevê repasses às concessionárias para cobrir exclusivamente custos variáveis e administrativos, nos quais estão incluídos os preços de combustíveis, lubrificantes, tributos, folha de pagamento, plano de saúde, seguro de vida e cesta básica para funcionários do sistema.

Em um dia útil antes da pandemia, o transporte coletivo da cidade registrava 626 mil passageiros. Segundo o Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (SETRANSP), o número de passageiros atualmente é de 170 mil, representando uma queda de mais de 70%.

Queda de passageiros

Transporte Público Ônibus Curitiba

Infografia: Stephanie Friesen
Fonte: Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana

A oferta do transporte público atualmente equivale a 60% ao que era antes da da pandemia, afirma o SETRANSP. A medida foi adotada a fim de evitar aglomerações nos ônibus e conter a transmissão do novo coronavírus. No entanto, a demanda é de apenas 30%. Portanto, os custos estão acima da receita. “Devido à medida do espaçamento entre passageiros, o número de ônibus circulando chega a ser três vezes maior que a demanda”, comenta o professor de Análise Conjuntural da Política e Economia na PUCPR, Marcos José Zablonsky. “Com mais ônibus e menos passageiros, a conta não fecha”.

Através do fundo emergencial, a prefeitura provisionou os R$54 milhões como reserva para as concessionárias de transporte público. “Não é garantido que tudo seja utilizado. A diferença do dinheiro arrecadado com a bilhetagem e o que é gasto com o sistema de transporte é pago pela prefeitura. Os milhões são para esse fim. Mas, caso aumente o número de passageiros novamente, será desembolsado menos do subsídio”.

O Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba (Setransp) argumenta que as medidas de corte de carga horária e salário com compensação e recursos de seguro-desemprego foram sustentadas na MP 936/2020, publicada no 1º de abril pelo Governo Federal. A expectativa é de que mais de 3 mil trabalhadores do sistema de transporte público tenham seus contratos suspensos.

Medidas de prevenção adotadas pela URBS

Os fiscais da URBS são aconselhados a conferir se o uso de máscaras está sendo feito devidamente. “A orientação do uso de máscaras no transporte coletivo é feita pela fiscalização e pela Guarda Municipal”, conta Pedro*. “Isso não existia antigamente, e exige ainda mais por parte da fiscalização”.

*Pedro preferiu não ter sua identidade revelada.