Voz da Comunidade: Novo Caximba é sinônimo de velha política

por Eduardo Veiga Nogueira
Voz da Comunidade: Novo Caximba é sinônimo de velha política

O projeto da Prefeitura, chamado Bairro Novo Caximba, é uma tentativa de empurrar o problema da desigualdade para debaixo do tapete

Por Mutirão do Bem Viver e NovoCaximbaVelhaPolítica | Foto: Matheus Vasconcelos

O bairro Caximba, localizado no ponto mais ao Sul da cidade, vem resistindo em meio às faltas. A “cidade modelo” do prefeito Rafael Greca se orgulha em demonstrar seus feitos de urbanismo, mas parece se importar pouco com as pessoas que não vivem nos centros, despejando e passando por cima dos trabalhadores que ajudam a construir Curitiba. A cidade referência em desenvolvimento sustentável se orgulha de seus prêmios nacionais e internacionais, mas é responsável por silenciar as comunidades afastadas.

O projeto da Prefeitura, chamado Bairro Novo Caximba, é uma tentativa de empurrar o problema da desigualdade para debaixo do tapete. O plano seria resolver as inundações frequentes e a falta de saneamento básico. Porém, novamente, o prefeito vê somente aqueles que desenham o projeto, e não as pessoas que resistem no bairro precarizado — neste caso, a Agência Francesa de Desenvolvimento ajudou a desenhar o projeto com um investimento de R$ 164 milhões.

A proposta pretende transformar as moradias conseguidas com grande esforço em um parque com pegada ecológica, alinhado ao discurso de “cidade modelo”.

Os invisibilizados nesse empreendimento são os que deveriam receber seus benefícios, o que não acontece. Essas famílias estão sofrendo despejos criminosos desde 2017, como o ocorrido no dia 15/04. Veículos da Prefeitura de Curitiba derrubaram cerca de 11 casas com apoio da Guarda Municipal, Grupo de Operações Especiais e Cohab, numa operação surpresa na região da Ocupação 29 de Outubro, prevista para a implementação do projeto, sem apresentação de mandado. Moradores estavam trabalhando e tiveram suas casas derrubadas.

A comunidade nunca foi chamada de forma conjunta, aberta e transparente, para discutir o projeto que pretende gerenciar suas vidas e casas. A primeira reunião para tratar do projeto foi feita na regional da Rua da Cidadania do Tatuquara, a 5 km de distância da Caximba, em horário comercial durante a semana. A impressão que fica é de que as autoridades realmente estão tentando afastar a população dos espaços de decisão e debate.

Além disso, a criminalização de movimentos populares não é novidade no nosso país. Pessoas que não têm contato com a realidade da Caximba, têm de referência apenas o discurso das autoridades e da mídia que os sustenta. Isso faz com que a imagem das mobilizações seja associada à marginalidade, conflito, aproveito. Quando lutamos por processos justos de habitação, não queremos “casinha de graça”. As casas cedidas pela Cohab estão no programa de mensalidade social.

Com o apoio das páginas @NovoCaximbaVelhaPolítica (iniciativa da sociedade civil, moradores do bairro Caximba e articulação da parceria com o Mutirão do Bem Viver), e da liderança Mestranda Gaivotta (coordenadora do Projeto Move Vidas, que atende famílias e crianças do bairro através da Capoeira e da assistência social), iniciou-se um movimento em prol da moradia digna no bairro Caximba e nas redes. As postagens da página são feitas no intuito de informar desdobramentos acerca do empreendimento da prefeitura, cobrando transparência no processo; e tem o compromisso de ser canal de necessidades dos moradores da Caximba e de manter contato próximo com os moradores.

O cansaço por enfrentar grandes setores é combatido pela esperança de estimular os jovens a serem críticos e desalienados, e os adultos a não terem mais medo de dizer suas palavras. A luta é para que essas vozes sejam ouvidas pelo poder público, em todas as situações em que a classe trabalhadora é silenciada pelos mais poderosos e, muitas vezes, pela mídia. É para que o restante da população de Curitiba, do Paraná, e do Brasil, entendam que o projeto de urbanização da prefeitura só é perfeito no discurso. No cotidiano das pessoas envolvidas, representa medo.