Curitiba sofre estiagem mais longa dos últimos anos

por Lucca Marreiros
Curitiba sofre estiagem mais longa dos últimos anos

Moradores da cidade já estão em alerta de consumo pela falta de chuvas 

Por Daniela Cintra, Diogo Santos, Isabella Serena e Lucca Marreiros

O Paraná enfrenta uma das piores crises hídricas de sua história. Um decreto de emergência assinado pelo Governo, logo no início do mês de maio, autorizou a implementação do rodízio de água entre os bairros de grandes centros urbanos do estado, como a capital Curitiba. No dia 22 de maio, 43 regiões de Curitiba ficaram sem água após passarem pelo rodízio de racionamento efetuado pela Sanepar. Bairros das regiões metropolitanas de Curitiba (como os de Colombo) também fazem parte do rodízio. A ausência de chuvas vem causando preocupação na população curitibana, uma vez que este é o momento em que mais se precisa de água para realizar a higienização básica contra o coronavírus. A medida adotada pelo órgão deve prevalecer pelo menos até a metade do mês de Junho.

De acordo com o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Estado do Paraná (SIMEPAR), a média esperada de chuva na cidade de Curitiba durante os quatro primeiros meses de 2020 era de 558 mm. Porém, de acordo com o próprio órgão, choveu apenas 263mm na capital, muito abaixo do esperado. Havia tempos em que a cidade e o estado não eram afetados por uma seca tão rigorosa. As última registrada havia sido em 1997. O Simepar ainda informou que essa anomalia, que já vinha sendo notada desde o segundo semestre de 2019 na região nordeste do estado, se prolongou até novembro, e acabou atingindo todo o estado a partir de fevereiro deste ano. O fato preocupou as empresas de saneamento e de energia na capital, o que resultou no decreto de emergência hídrica. Alguns moradores de Curitiba e região já estão cientes do rodízio de racionamento. No entanto, ainda não estão sofrendo com a falta de água. 

Para a publicitária Nathália Cardoso, a questão agora é redobrar os cuidados com o consumo. “Não estou sendo afetada por ter a caixa d’água em casa, mas como são 48 horas sem água, é preciso cuidado extremo para não desperdiçar. Para as necessidades básicas, estamos conseguindo usá-la normalmente”, afirma. Outros moradores da cidade se sentiram um pouco mais afetados com o racionamento, como é o caso de Marcelo Esquinini. O advogado sentiu o impacto do rodízio ao tomar banho pela noite, ficando sem água das 20 horas até as 7 horas do dia seguinte. “A incerteza sobre o reabastecimento do serviço talvez seja uma das piores partes”, concluiu. 

A falta da distribuição de água, porém, não atinge a todos os moradores da capital. A jovem Milena Muler, moradora do bairro Novo Mundo, afirma que ainda não sofreu com a falta de água. “Moro com a minha mãe e ainda não tivemos nenhum problema de falta de abastecimento”. Porém, ela também revela que possui amigos que moram em outros bairros de Curitiba que já foram atingidos pela falta de água, como o Alto Boqueirão. “Muitos amigos me contam que falta água direto em suas casas”.

O pesquisador e engenheiro ambiental Arlan Scortegagna, funcionário do Simepar, informou que ainda não existe um motivo específico que tenha resultado nesta estiagem tão prolongada. “Não temos uma definição e um consenso consolidado entre os pesquisadores para afirmar a causa dessa seca. Existem pesquisas com credibilidade sendo feitas na Universidade Federal do Paraná (UFPR) em que a Alice Grimm afirma com bastante mérito que essa seca está sendo causada pelo El Niño Central. Porém, ainda não é possível comprovar”. Apesar do cenário negativo, Scortegagna expõe que, em um prognóstico bastante otimista para os próximos três meses e com uma chuva caindo dentro da média, ainda não será suficiente para recuperar o que foi perdido. O pesquisador também destaca a  preocupação com a situação de três das 12 unidades hidrográficas presentes no estado: Tibagi, Iguaçu e Alto Iguaçu. Enquanto as duas primeiras registraram nos dias 5 e 12 de maio os piores índices da história, a última, que é a bacia a qual Curitiba está localizada, também possui situação preocupante. Segundo Arlan, o objetivo para evitar um maior agravamento da crise  é “monitorar as bacias e estabelecer estratégias, como a de predição, para sair do estado de emergência”.

A avaliação é confirmada por Otávio Malinovski, técnico de um dos postos de abastecimento da Sanepar por mais de 15 anos. “Não basta apenas chover. A chuva deve ocorrer também nas nascentes dos mananciais que abastecem as barragens. É necessária uma combinação de alto índice pluviométrico junto com o local desta precipitação. Tem que chover muito e no lugar certo”, informou o técnico, que também ressaltou as dificuldades enfrentadas pela empresa para conseguir executar o trabalho. Segundo ele, a falta de chuvas torna a matéria prima-um bem escasso, dificultando a operação para a distribuição da água de forma regular aos 9.644.991 de cidadãos, consumidores da água que vem da Sanepar no estado. Em Curitiba e região metropolitana são cerca de 2.916.867 pessoas. “Mesmo com o rodízio de racionamento há um enorme trabalho para elaborar manobras em registros e outras funções, que em uma situação normal não haveria.” 

Para que as dificuldades sejam mínimas durante este período longo de estiagem é indispensável que todos os cidadãos sigam à risca as dicas de consumo consciente fornecidas pela Sanepar, como reduzir a lavagem diária de roupas, diminuir o tempo de banho, manter a torneira fechada enquanto escova os dentes, faz a barba, ou ensaboa as mãos. Não jogue papel higiênico no sanitário para não entupir os encanamentos e ter que usar mais a descarga. Para manter a limpeza de calçadas e áreas externas, a vassoura já é o suficiente, pois lavar estes locais com a mangueira é desperdiçar água tratada. Para as residências que têm caixa d’água de pelo menos 500 litros, a Sanepar informa que estas conseguem ficar abastecidas tranquilamente durante o período de 24 horas, com o consumo consciente. 

Confira 5 dicas de consumo consciente de água no infográfico abaixo: