Estudantes de Curitiba participam de protesto nacional pelo fim do Novo Ensino Médio

por Ricardo de Siqueira
Estudantes de Curitiba participam de protesto nacional pelo fim do Novo Ensino Médio

Manifestação reuniu comunidade escolar em frente ao prédio histórico da UFPR, na Praça Santos Andrade 

Por Ricardo de Siqueira, Davi Guiarzi, Emilly Kauana Alves, Gustavo Malinowski, Milena Bilino e Stephanie Carneiro. | Foto: Ricardo de Siqueira

Estudantes e professores voltaram às ruas de Curitiba após a convocação feita pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e movimentos sociais, no que foi chamado de Dia Nacional de Mobilização pela Revogação do Novo Ensino Médio (NEM). Na capital paranaense, o ato reuniu os manifestantes no final da tarde desta quarta-feira (19), em frente ao prédio histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), na Praça Santos Andrade. O ato se encerrou por volta das 19h na Boca Maldita, depois de uma caminhada pela Rua XV de Novembro.

O principal alvo dos manifestantes em Curitiba foi o governador do Paraná, Ratinho Junior, principalmente por meio de críticas feitas ao sistema de ensino à distância e à carga horária das aulas. Os estudantes também criticam a portaria que suspende a implementação do NEM, anunciada pelo MEC. Segundo informações divulgadas pelo Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deseja fazer apenas “alguns ajustes” no novo Ensino Médio, mas não revogar por completo a mudança.  Representantes de alguns partidos como o PCB (Partido Comunista Brasileiro) e PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) também reiteraram seu posicionamento contra o novo Ensino Médio. Outras manifestações ocorreram no interior do estado, nas cidades de Maringá, Londrina, Foz do Iguaçu, Castro, Cambé e Cascavel. 

Entre as reclamações dos estudantes, é possível destacar o aumento expressivo da carga horária e a falta de conexão entre as disciplinas e a realidade dos alunos. Segundo o presidente do grêmio do colégio Julia Wanderley, Elliot Butturi, o novo formato de aulas tem impactos na vida até mesmo fora da escola. “Estamos vivendo em prol disso e de matérias que não fazem sentido nenhum em ter e que não estão agregando em nada na nossa vida”, diz Butturi. “Então o impacto está sendo bem negativo para todo mundo. Até o terceiro ano que ainda não está envolvido nisso está sofrendo um pouco com o reflexo.’’  

Os professores da rede estadual também estão sendo impactados pelo novo ensino, desde a mudança na didática e implementação de novos métodos de avaliação do aluno. A professora de Educação Física Tânia Chupelzene, da rede estadual do Paraná, diz que os novos equipamentos e plataformas que estão sendo implementados nas escolas estão desafiando os profissionais a se adequarem ao uso da tecnologia. “Eu sou professora de Educação Física e trabalho a questão do pensamento computacional. Não sou

Manifestantes durante passeata pela Rua XV | Foto: Ricardo de Siqueira

formada na área de pensamento computacional, e é muito complicado porque a gente teria que ter essa formação”, afirma a professora. “Imagine passar um conhecimento que eu não domino para os meus alunos.’’

Um dos equipamentos agora utilizados na rede de ensino é o chamado Educatron, que seria uma evolução do modelo das “Tv’s Laranjas”. De acordo com a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed), a tecnologia permite o acesso do professor e da turma à rede Wi-fi, assim como transmitir aulas à distância e demais atividades de apoio às aulas.

Os movimentos e organizações estudantis reforçam as reinvindicações e reclamações de alunos e professores. “A gente defende um ensino médio que seja plural, que atenda a diversidade da sociedade na qual ele está inserido, e de fato prepare os nossos jovens adolescentes não somente para o mercado de trabalho, mas também para conseguir acessar uma universidade de qualidade e que prepare ele para a vida”, afirma Thales Zaboroski, presidente da União Paranaense dos Estudantes (UPE).

De acordo com a presidente da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (Upes), Mariana Chagas, as reinvindicações estão sendo reunidas e apresentadas pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e UBES. As primeiras manifestações pressionaram o MEC, que anunciou uma portaria suspendendo o cronograma de implementação do novo Ensino Médio, publicada no Diário Oficial da União no dia 4 de abril. “Nacionalmente, nós temos a União Nacional dos Estudantes e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, que estão lá todos os dias batendo na porta do MEC. Foi graças às mobilizações do Movimento Estudantil, unido com as categorias dos trabalhadores, que no dia 15, conseguimos a portaria”, afirma Chagas. “Conseguimos com que parassem as implementações do novo ensino médio. Não é a entrada que a gente gostaria, mas com pressão e massa social está dando certo”.

Suspensão da implementação do NEM

No dia 8 de março deste ano, o Governo Federal publicou a portaria nº627 (veja aqui) que suspende a implementação do novo ensino em todas as instituições escolares durante 60 dias contados a partir do término da consulta pública promovida pelo Ministério da Educação para avaliação e reestruturação da Política Nacional de Ensino Médio, porém a medida não significa que o sistema será revogado.

 

Estudantes reunidos na Praça Santos Andrade | Foto: Ricardo de Siqueira

 

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