Operação Penalidade Máxima avança e afeta clubes paranaenses

por Henrique Odebrecht Jorge
Operação Penalidade Máxima avança e afeta clubes paranaenses

Esquemas de fraudes em apostas esportivas estão sendo investigadas pelo Ministério Público de Goiás e causa rescisões e afastamentos de atletas em clubes paranaenses

Por: Felipe Benato, Henrique Jorge, Jeferson Kolscheski e Lucas Lopes | Foto: Pixabay

As recentes investigações de manipulação de resultados de jogos de futebol para fraudar apostas esportivas começaram a provocar rescisões e afastamentos de atletas que atuam em clubes paranaenses. As medidas são resultado de denúncias apresentadas pelo Ministério Público de Goiás. Até agora, Alef Manga, Jesus Trindade e Diego Porfírio pelo coxa, Bryan García e Pedrinho pelo Athletico e Fernando Neto pelo Operário, tiveram nomes citados pelo Ministério Público.

A “Operação Penalidade Máxima 2” não é a primeira investigação sobre fraudes de resultados de jogos no país. Em 1982, o escândalo da Máfia da Loteria Esportiva causou mudanças drásticas na regulamentação dos campeonatos e a condenação e prisão de vários integrantes da máfia. Em 2005, uma reportagem do jornalista André Rizek para a revista Veja também resultou em investigações que revelaram um esquema de manipulação comandado por Nagib Fayad, que apostava em jogos apitados por árbitros previamente definidos.

Coritiba: Alef Manga, Diego Porfírio e Jesus Trindade

No Coritiba, três atletas foram citados, Alef Manga, Jesus Trindade e Diego Porfírio, os dois que ainda tem vínculo com o Coxa tiveram seus contratos suspensos e estão afastados das atividades do clube. Já o lateral Diego Porfírio, atualmente no Guarani, conta com o respaldo do clube e continua em atividade.

Alef Manga, atacante do Coritiba, se manifestou através do advogado Jeffrey Chiquini, afirmando não ter participação com os esquemas e disse que pretende abrir suas contas bancárias para provar sua inocência. Após a repercussão, o advogado do atleta se afastou do caso por conta de um estremecimento na relação com o atleta.

Em vídeo divulgado nas redes sociais, Chiquini afirma que a saída do caso não tem relação com uma suposta mudança na versão do atacante. “Isto não é verdade. A relação entre cliente e advogado é uma relação de confiança. A partir do momento em que essa relação é estremecida, que existe um ruído de comunicação, o melhor para as duas partes é repensar a defesa“

Ainda no vídeo onde fala sobre o jogador, o advogado, comenta sobre outro atleta que ele defende, Jesus Trindade, que tenta a rescisão de seu contrato para sair do clube paranaense. Para Chiquini, muitos jogadores estão sendo usados como uma proteção para os verdadeiros culpados e que muitos jogadores inocentes estão sendo citados e prejudicados pela operação. “Eles são peões nesse tabuleiro, estão sendo usados pelos apostadores experientes. Eles querem se esquivar de punições colocando os atletas como culpados. Está havendo muita injustiça”

Athletico: Bryan García e Pedrinho

No Athletico, o Lateral esquerdo Pedrinho e o volante Bryan García tem seus nomes incluídos em planilhas e conversas dos apostadores. O Furacão prontamente rompeu os contratos dos atletas e por meio das redes sociais disse que não se pronunciará mais sobre o caso. Na nota o clube cita a importância dos valores da instituição e do esporte e que foram primordiais para a decisão de desligar os jogadores.

O volante Brayan García, que já depôs no MP de Goiás, admitiu para as autoridades ter participado do esquema, e dessa forma se tornou testemunha na operação “Penalidade Máxima 2”

Operário: Fernando Neto

No clube de Ponta Grossa, o jogador envolvido foi Fernando Neto. O caso do jogador, é um dos mais relevantes para investigação, pois o atleta é investigado por aliciar jogadores, como Eduardo Bauermann e comenta sobre ter recebido um cartão amarelo propositalmente para receber dinheiro. Atualmente no São Bernardo, Fernando Neto ainda não teve punição e o clube afirma que vai esperar novas informações para definir o futuro do atleta.

Confira trecho da nota divulgada pelo clube paulista.

“Sobre matéria veiculada pela Revista Veja, nesta segunda (08 de maio), o São Bernardo FC esclarece que aguarda das autoridades informações concretas, pois a investigação e apuração de fatos relativos à denúncia de manipulação do mercado de apostas está sob segredo de Justiça.”

Máfia do Apito 2005: Esquema de apostas que parou o país

Por mais absurdo que pareça, esquemas de apostas são um tanto comuns no futebol brasileiro. Nomeada como Máfia do Apito, teve o início da sua investigação no final do mês de setembro de 2005 após ser publicada uma notícia da revista Veja sobre um esquema de manipulação de resultados no campeonato brasileiro. Esquema revelado por promotores de Justiça de Combate ao Crime Organizado junto da Polícia Federal, na cidade de São Paulo.

Com o avanço das investigações, descobriram que o chefe do esquema era o empresário Nagib Fayad, cujo apelido era “Gibão”. O empresário comandava três outros empresários ligados ao ramo de bingo, que apostaram nos jogos dos árbitros Paulo José Danelon (Série B) e Edilson Pereira de Carvalho (Série A).

A quadrilha criminosa combinava um determinado resultado em jogos apitados por Edílson Pereira de Carvalho e, em seguida, realizava apostas milionárias em dois sites de apostas eletrônicas e, então, aplicavam propinas com cerca de 10 a 15 mil reais por jogo. Depois de uma apuração, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), presidido na época por Luiz Zveiter, anulou 11 jogos apitados por Edilson Pereira de Carvalho e fez com que fossem disputados novamente.

Com o fim dos 11 jogos, o Corinthians terminou campeão dessa edição, à frente do Internacional por apenas 3 pontos. Edilson e Danelon foram excluídos do futebol e se tornaram réus em uma ação penal, assim como Fayad e os outros integrantes do grupo, ação que não teve sucesso no Tribunal de Justiça de São Paulo. De acordo com o tribunal, não houve crime cometido. As fraudes esportivas só foram tipificadas em 2010, com a inclusão de um artigo no Estatuto do Torcedor.

 

Máfia da Loteria Esportiva 1982: As fraudes de resultados

Durante a década de 1980, a máfia da loteria esportiva atuava no Brasil, manipulando resultados de jogos de futebol para obter lucros com apostas fraudulentas. A fraude foi descoberta em 1982, após uma investigação da Polícia Federal chamada Operação Ouro Verde, que resultou na prisão e condenação de vários membros da máfia. 

 Alguns dos principais times que foram citados incluem: Flamengo, Internacional de Porto Alegre, Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Vasco da Gama. No entanto, é importante ressaltar que nem todos os jogadores, técnicos ou dirigentes desses clubes estavam envolvidos nas fraudes. 

A manipulação de resultados foi um esquema conduzido por um grupo específico de pessoas que atuavam à margem da lei e do futebol honesto. Após a descoberta do escândalo, muitas mudanças foram feitas na regulamentação do futebol brasileiro para garantir a transparência e a integridade das competições esportivas. 

Atualmente, houve uma correção na legislação e regulamentos, onde uma das principais medidas adotadas foi o fortalecimento das punições para os envolvidos em manipulação de resultados. 

Foram estabelecidas sanções mais rigorosas, que incluem suspensões, multas e até mesmo a exclusão de clubes ou jogadores envolvidos em atividades fraudulentas. Além disso, foram implementados mecanismos de monitoramento e investigação mais eficientes, com a colaboração de órgãos de segurança e autoridades competentes, visando identificar e punir os responsáveis por qualquer forma de manipulação.

Operação Máxima

A operação comandada pelo Ministério Público de Goiás, iniciado no final de 2022, a partir de diversas evidências de jogadores que manipularam apostas em jogos no Brasil inteiro. As manipulações eram feitas por meio de recebimento de cartões amarelos e vermelhos, pênaltis cometidos, número de escanteios, etc. 

A investigação em cima de grupos de apostadores e jogadores de todas as divisões dos campeonatos nacionais revelou que as propostas chegavam até R$100 mil por lance, que era combinado antes das partidas. Dessa forma, os apostadores lucravam com apostas combinadas, que faziam os valores se multiplicarem. Portanto, diversos jogadores eram envolvidos em uma única aposta, para fazer com que os ganhos fossem cada vez maiores.

As primeiras denúncias ouvidas em 2022 mostram que o jogador Romário que atuava no Vila Nova-GO aceitou receber R$150 mil para cometer um pênalti contra o Sport pela Série B daquele ano, porém naquela ocasião o atleta nem sequer foi relacionado para o jogo, o que acabou frustrando os planos da máfia. Essa história chegou nos bastidores do clube goiano e da Polícia Militar do Estado. Dando assim, início à Operação Penalidade Máxima para investigar provas e suspeitas relacionadas.

Nesse primeiro momento da operação, as suspeitas estavam sobre três partidas da Série B do Campeonato Brasileiro, porém deram a entender que as manipulações eram de âmbito nacional e que já havia ocorrido em Campeonatos Estaduais. Nesse estágio da investigação, além do Romário, mais sete jogadores foram denunciados pelo Ministério Público, todos eles da segunda divisão nacional.

Operação Máxima 2

Iniciada em Abril deste ano, a operação comandada pelo Ministério Público de Goiás, intitulada de Penalidade Máxima 2, investiga a participação de jogadores em esquemas de manipulação de resultados de partidas de futebol para fraudar sites de apostas. Essa operação é a continuação das investigações do final de 2022, também comandadas pelo MP de Goiás.

Nessa operação, 16 jogadores estão sendo investigados pelas fraudes, e outros foram citados em conversas reveladas pela investigação. Entre os atletas que aparecem como suspeitos, seis estavam atuando em clubes do Paraná. Nos clubes da capital, cinco jogadores têm seus nomes relacionados com os esquemas.