Casos de Depressão e ansiedade se intensificam na pandemia

por Guilherme Seisuke da Silva Araki
Casos de Depressão e ansiedade se intensificam na pandemia

Aumento está ligado ao medo do vírus, restrição do convívio social, incerteza quanto ao futuro e dificuldades trazidas pela crise financeira

Por Felipe Worliczeck Martins, Guilherme Araki e Vinicius Gabriel Bittencourt | Foto: Skitterphoto/Pixabay

O Setembro Amarelo deste ano, que é o mês de conscientização de prevenção ao suicídio, é desafiado pelos problemas impostos pela pandemia no combate à depressão e ansiedade. O isolamento social, necessário para o combate da disseminação do novo coronavírus,  pode agravar quadros de depressão já existentes e iniciar novos, visto que os indivíduos têm menos interação social, aliado ao medo da pandemia e de ir em consultas psiquiátricas, que antes eram rotina. 

Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, em levantamento realizado com psiquiatras em 23 estados e no Distrito Federal, quase 90% percebeu um agravamento nos quadros de seus pacientes por conta da pandemia, e 67,8% deles afirmaram que começaram a atender pacientes que não tinham nenhum quadro depressivo anterior à quarentena. 

Além disso, a associação também levantou que 69,3% dos pacientes já tinham recebido alta no passado e voltaram às consultas, sendo que aproximadamente 44% de todos os profissionais entrevistados perceberam queda no número de atendimentos, algo que pode ser explicado pelo medo da contaminação em atendimentos presenciais, embora quase metade dos profissionais notificaram aumento de consultas durante a quarentena.

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O Centro de Valorização da Vida (CVV), que, através de chamadas, e-mail e chat realiza apoio emocional e de prevenção ao suicídio de forma voluntária, se adaptou para atender mais remotamente. Segundo a assessoria de imprensa em contato com a reportagem, não houve aumento na procura e no número de atendimentos neste período de pandemia, apenas uma migração dos voluntários para o atendimento virtual.

Antes da pandemia, o Brasil já era o país com maior número de casos de transtorno de ansiedade e o segundo com maior número de transtornos depressivos, segundo a Organização Mundial da Saúde. A OMS também contabiliza cerca de 800 mil casos de suicídio por ano no mundo.

Problemas causados pela pandemia

A Psicóloga Andressa Panham aponta que a pandemia também pode ter agravado quadros de depressão por conta da mudança de rotina das pessoas, causada pelo isolamento social: “É uma coisa do ser humano, a gente gosta de ter controle sobre tudo, então quando algumas coisas fogem da nossa alçada, acaba trazendo alguns sentimentos de desconforto, negatividade.”

Ao ser questionada sobre tentativas de contornar os problemas causados pela nova rotina, Andressa afirma que é necessário não se desfazer de seu círculo social: “Acho importante a pessoa manter o contato ainda, tentar conversar para também não ficar muito isolado e deixar de falar o que está sentindo ou passando.”

Além disso, a psicóloga notou um aumento no uso de medicamentos por parte dos pacientes, muitas vezes aumentando a dosagem, afirmando que: “É uma dificuldade muito grande em relação ao uso de medicamentos, a gente está vendo muito abuso de substâncias e automedicação.”

Andressa também percebeu uma queda no número de pacientes, relacionando-a à situação financeira de diversos pacientes, visto que muitos eram autônomos e perderam sua fonte de renda na pandemia. 

Impacto do isolamento social

O paulistano Robson Xavier de Carvalho afirma que durante a pandemia uma amiga próxima a ele passou a apresentar sinais de depressão, algo que até então nunca havia demonstrado: “Ela é uma pessoa muito sociável e por isso me chamou a atenção ter percebido isso nela”

Robson também comenta quais foram os indícios de que a amiga poderia estar com a doença: “Era possível notar nas conversas. Nós conversávamos por ligação, pois ela não estava se expondo. Ela perdeu o emprego e isso mexeu demais com ela. Com o tempo ela passou a achar que deixou de ser útil para os amigos, que eles pararam de procurá-la. Mas acho que isso é reflexo do fato de todo mundo estar conversando menos neste período”.

Além disso, ele aponta que a amiga sempre se sentiu muito solicitada e que o fato da perda do emprego ter coincidido com o período de isolamento social, fez com que ela passasse a se sentir excluída pelas pessoas.

Robson conclui dizendo que o isolamento social “força” as pessoas a serem mais realistas: “Para o bem ou para o mal todo mundo está sendo mais verdadeiro e o que tenho percebido é que a quantidade de pessoas que necessitam de assistência psicológica é muito maior do que se imaginava.”

Setembro Amarelo

O Setembro Amarelo foi criado em 2015 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) com o objetivo de conscientizar às pessoas sobre o debate sobre a depressão e o suicídio, coincidindo com dia mundial da prevenção ao suicídio, que é em 10 de setembro.

 

[box] Serviço

Se você precisar de ajuda, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV). Para informações e formas de contato, consulte o link https://www.cvv.org.br/[/box]