Mais de 40% da população brasileira tem saúde mental afetada com o isolamento social

por Ex-alunos
Mais de 40% da população brasileira tem saúde mental afetada com o isolamento social

Os números de pessoas afetadas por ansiedade, depressão e insônia aumentaram devido à quarentena

Por Fábio May e Paula Braga Goveia / Foto: Pixabay

Desde o mês de março, a maior parte da população está em suas casas evitando o contato social e a aglomeração. Nos últimos três meses, a saúde mental das pessoas em confinamento está sendo prejudicada. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos em 16 países, revelou que contendo 41% da população afetada pela ansiedade, o país com o maior número de pessoas que sofrem de crises durante o confinamento é o Brasil. A pesquisa aponta que 49% das mulheres se declaram ansiosas, enquanto 33% dos homens dizem sentir os sintomas. O número de pessoas com tendência à depressão também aumentou em 11% durante a pandemia. Um dos fatores agravantes da ansiedade, indicado pelas pessoas entrevistadas para o estudo, foi a preocupação com as recomendações, como o uso das máscaras e com a higienização excessiva neste período.

A psicóloga Yasmim Corrêa Bezerra avalia o período atual como um momento de muitos sentimentos aversivos: ansiedade, improdutividade, tristeza, frustração, raiva, desesperança e insegurança. “Cabe lembrar que esses sentimentos são humanos e compatíveis com o momento atual.” Ela reforça os diversos fatores que colaboram para este estresse emocional enfrentado por grande parte das pessoas agora: “Dificuldades financeiras, profissionais, no cuidado e supervisão dos filhos e aumento de conflito familiar dado ao isolamento domiciliar”.

Outro tema que preocupa é a insônia. Cerca de 26% dos brasileiros enfrentam dificuldades para dormir e irregularidades no sono. O impacto nas mulheres novamente é mais alto – 33% têm problemas para dormir. Dos homens, 19% enfrentam a insônia.

De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), os profissionais da área tiveram aumento no número de consultas, em 47,9%, e cerca de 70% relataram ter novos pacientes depois do isolamento social. Todos dizem que nunca sofreram problemas psiquiátricos antes. Além disso, 89,2% dos psiquiatras também identificaram que pacientes já em tratamento tiveram sintomas psicológicos agravados após o início da quarentena.

Para Bezerra, também especializada  em Clínica Analítico-Comportamental, todo esse cenário causado pela Covid-19 é um gatilho para o surgimento de comportamentos ansiosos. Por exemplo: “Pensamentos obsessivos sobre contaminação, pensamentos catastróficos sobre a disseminação da doença pelo mundo, comportamentos compulsivos de checagem de informações e cuidados excessivos e/ou desnecessários podem ser desenvolvidos neste momento.” Ela diz que não há uma prática certa e única a ser tomada, é preciso tatear a diferença entre o que é um autocuidado necessário e o que faz parte de um padrão de comportamento ansioso.

Indicações para manter a mente saudável

Segundo a psicóloga Yasmin, a melhor dica é atentar-se ao autocuidado: “É importante planejar/manter uma rotina em tempos de distanciamento social, principalmente em relação à higiene e à limpeza”. Para as pessoas que se percebem excessivamente ansiosas em relação ao assunto é importante: evitar notícias sensacionalistas que possam produzir uma ansiedade desproporcional aos fatos; buscar fontes de informações confiáveis; evitar comportamentos compulsivos de leitura sobre o tema, mantendo-se informado o suficiente para própria proteção, focando em comportamentos preventivos que estão sob seu controle, e se ainda houver dificuldade em manejar a ansiedade, é recomendado a busca por ajuda profissional.

A psicóloga do Conselho Regional de Psicologia Luiza Carmen aconselhou a executar atividades físicas, tentar manter contato com pessoas queridas e não se cobrar muito nesse período. Ela também frisou que estabelecer uma rotina é essencial para manter a mente saudável. Em alguns casos, Carmen deixou aberta a possibilidade de procurar atendimento psiquiátrico profissional: “Os atendimentos de psicologia em sua maioria estão acontecendo online e, em casos graves, é possível o atendimento presencial. Há serviços públicos da Prefeitura de Curitiba no 156 e do CVV 188.”.

Relatos familiares

Para a mãe e assistente comercial Beatriz Melo, o confinamento tem causado um sentimento de impotência e tem afetado a saúde mental da família: “O fato de ficar muito tempo em casa, causa medo. Quando saio na rua, parece que algo ruim vai acontecer, perdemos o senso do coletivo”. Entretanto, Beatriz acredita que a sua família ficou mais unida durante esse período: “Sinto que estamos mais próximos. Porém, com uma certa impaciência devido a convivência forçada”. Ela também relatou que para evitar o estresse e ansiedade, a família tenta manter contato com amigos e familiares, ver filmes e séries, mas sempre com cada um respeitando o espaço do outro.

O pai e engenheiro de produção Carlos Casagrande relatou que sua família se aproximou mais após a segunda quinzena de março: “Estamos nos comunicando melhor e tem tido um maior entendimento entre nós”. Ele comentou que, para evitar o estresse, a família jogava bastante jogos de tabuleiros e procurava envolver todos nas atividades da casa como limpeza e cuidar do jardim. Porém, o engenheiro também contou que a família acabou se distanciando a partir de abril, quando ele voltou a trabalhar e a rotina habitual, também.